lundi 9 juillet 2007


11. Passado, futuro... Presente

Devemos então entender o tantrismo também como um desdobramento de espiritualidade arcaicas. Por exemplo, as deusas negras, Kali e Durga, as deusas paleo-mediterrâneas (Deméter, Cibele, Diana) assim como as virgens cristãs se remetem à um mesmo ponto. A grande deusa, que começou a ser adorada formalmente a partir do neolítico, e que emerge novamente a partir do tantrismo. Mas emerge enquanto poder, diferentemente das figuras femininas cristãs. Metafisicamente esse feminino corresponde ao aspecto essencial da existência; e se o masculino representa a imutabilidade, esse feminino representa a energia, o poder que age sobre a manifestação.

Shakti que vem da raiz sak (ser, capaz de fazer, ter força para fazer, atuar) significa poder. E dentro do tantrismo esse feminino vai além do caráter maternal, receptivo e "passivo".

Mistura-se a esse ponto, no tantrismo, as práticas mágicas das diversas áreas da Índia e do Tibete, além de uma recuperação de ritos xamânicos; entretanto esses saberes são elevados a um nível superior dentro do Tantra - particularmente aqueles que possuem uma base sexual.

A orientação do Tantra no que se refere ao poder, inscreve-se dentro das tradições de caráter de revelação (akasani sruti); contudo, difere da tradição que equaciona essa questão através da fórmula de uma entidade externa que "revela" algum conhecimento, alguma benção, ou o que seja. No caso do tantrismo trata-se da capacidade de Conhecer por si mesmo aquilo que só pode ser passado adiante através da simbologia.

Conhecer, entrar em contato com a Idéia; identificada pela sua raiz id à raiz sanscrita vid (de Vedas), e que remete então ao conhecimento através da... Visão. Perceber é Ver. Muitos mestre afirmam que o simples conhecimento teórico da doutrina não possui valor algum. Sim, pois o que realmente importa dentro do Tantra são os métodos práticos da realização, que em si contêm certas verdades que servirão para abrir as sucessivas portas que aparecerão. Ou seja, o que realmente importa dentro do Tantra é que nos percebamos realmente. Que vejamos nossa face no espelho da vida.

A partir desse ponto podemos compreender a denominação de sadhana-sastra (formalmente, tratados de práticas espirituais); sadhana relaciona-se com a raiz sadh, que significa a aplicação do querer, do esforço, do exercício; uma atividade dirigida para a obtenção de um determinado resultado. E por isso é que não basta um conhecimento puramente intelectual, não basta compreender intelectualmente que a raiz de todas as coisas é o Vazio - para o Tantra isso não é conhecimento. É especulação. Pois no caminho tântrico o homem deve perceber, deve acordar, para conhecer esse Vazio em si mesmo.

Encontramos dentro do tantrismo também a importância de determinados rituais mágicos, cultos e evocações. Através dos quais "adora-se" a divindade convertendo-se nela. "Não existe um mundo de fenômenos, de aparências, e por detrás desse, impenetrável, a verdadeira realidade, uma essência do mesmo; existe um dado único que possui diversas dimensões, e existe uma hierarquia de formas possíveis para a experiência humana (e sobre-humana); e para que estas dimensões se descubram aos poucos, basta que se perceba diretamente a Realidade Essencial." - diz Evola. Pois o tipo verdadeiro de conhecimento é o direto.

Mas o homem "comum" (eu e você) não consegue perceber esse estado por estar entorpecido, condicionado e vendado por um realidade puramente social, biológica, instintiva e pulsional. De certa forma não existe uma realidade relativa, e além, uma realidade absoluta; o que há é a Realidade. E o tântrico caminha através de si mesmo para abrir todas as suas portas e então percebê-la.