lundi 9 juillet 2007



43. A Roda do Tempo
Esse universo sonoro também é cromático. E a mandala, dentro da liturgia tântrica possui uma função semelhante ao do mantra, porém, agindo em outros planos. Mandala significa círculo, ou centro. É um complexo desenho, onde no centro de um anel externo encontram-se um ou mais círculos concêntricos, que encerram um quadrado dividido em triângulos; em seu centro encontramos figuras de divindades. Existem vários tipos de mandalas onde diversos temas transcendentais são “contados”. Algumas mandalas tem aparência de labirinto, outras mostram palácios com muralhas torres e jardins. Desenhos florais misturam-se com estruturas cristalográficas semelhantes a diamantes e a flores de lótus. Todos esses motivos tem significados que podem ser interpretados a partir de diversos níveis, de acordo com o “nível” espiritual da pessoa.
Existe ainda um tipo de mandala “simplificada” chamado de yantra (que em sânscrito significa artefato, instrumento) que é utilizado pelo hinduísmo como um objeto que serve para reter. É uma espécie de diagrama desenhado em metal, madeira, pele de animal, pedra, papel ou que simplesmente é desenhado no chão ou na parede. Um yantra é constituído por uma série de triângulos em meio a vários círculos concêntricos dentro de um quadrado de quatro portas. Cada forma, assim como a sua posição normal ou invertida, possui um significado distinto.
Resumidamente podemos explicar a mandala da seguinte forma: o seu anel exterior seria uma barreira de fogo que além de impedir o acesso aos não iniciados simboliza também o conhecimento metafísico que queima a ignorância; em seguida encontramos o cinturão de diamante que simboliza a consciência suprema e inquebrável; em seu interior estão os oito cemitérios que simbolizam os oito aspectos da consciência desintegrada; temos a seguir um cinturão de folhas que significa um renascer espiritual; finalmente em seu centro encontramos o palácio espiritual onde estão as imagens dos deuses. Existem vários tipos de mandalas com suas “traduções” específicas. Dentro do Budismo Tibetano temos a Kalachakra, uma das mandalas mais poderosas e belas que existe.
Existem também várias figuras que “habitam” os vários tipos de mandalas entre elas estão os guardiães das portas, que possuem um duplo papel: defender a consciência contra as forças desagregadoras do inconsciente e também possuem a missão de ter domínio sobre o mundo do inconsciente - e para isso a consciência deve travar uma batalha além das linhas inimigas assumindo um aspecto terrível, condizentes com as forças a serem domadas. Existem também divindades iradas habitando a mandala, entidades essas que a consciência encontraria no bardo após a morte do corpo físico.
No tantrismo, essas figuras iradas, esses monstros, simbolizam as forças do inconsciente e numa análise última, são criações da própria consciência que as teme. Trata-se então de estratagemas iniciáticos para que o adormecido possa despertar.
Se na mandala os deuses moram num nível arquetípico, em nosso corpo eles moram no nível existencial. Nenhuma outra escola iniciática, caminho esotérico, enfim, em nenhuma outra religião ou filosofia o corpo teve o papel que possui como no Tantra. Diferente da leitura estética dos gregos, o corpo para o tântrico representa ao mesmo tempo a morada das divindades e as próprias divindades em si. A busca da saúde e da força interior do mesmo e uma leitura fisiológica que se assemelha ao cosmos são valores pré-védicos que foram sistematizados pelas tantrikas e pelos tântricos. O ascetismo é deixado de lado e o corpo é considerado divino; não é mais uma fonte de sofrimento, porém, um palácio de prazer. E para isso deve ser sadio e estar em ótimas condições.