mardi 10 juillet 2007



49. O espelho
“Todas as coisas são apenas o que são” – afirma Murilo Nunes de Azevedo. Assim através do Tantra percebemos a existência da forma que ela é. E percebemos isso através de nós mesmos. E é preciso gerar o caos dentro de si para dar a luz a uma estrela – diria Nietzsche. E é esse o treinamento básico do Tantra. O caos. O abalar das convenções e das noções preestabelecidas, as noções de tempo e espaço, as noções de bem e de mal, de moral, de certo e errado. Tudo isso é então examinado para que se possa "perceber" sobre qual terreno esses conceitos estão assentados. Contudo convencionalmente a maneira de percebermos e de distinguir entre certo e errado é levarmos em conta o sentimento alheio.
Mas quem é aquele que em mim Goza? Quem é aquele que em mim sente dor, dorme, defeca? Quem é aquele que percebe essa terceira pessoa que pode ir se desdobrando para trás até mergulhar no Vazio? E o que sustenta esses agregados que me formam? De onde vem essa energia que eu devo trabalhar num ritual tântrico? E que brilho é esse que percebo no olhar da mulher que representa todas as estrelas e deusas, mesmo sendo uma só? Mesmo sendo um simples cadáver ambulante, que aspiração é essa que nos faz seguir em frente a procura de respostas? Mesmo sendo um saco de ossos, porque nos emocionamos ao olhar o céu estrelado de uma noite de outono sem luar?