mardi 10 juillet 2007


53. O Agora
Qual foi a última vez que você sentiu o cheiro da chuva? Ou o cheiro da terra molhada pela chuva; ou mesmo do asfalto molhado pela chuva? Qual foi a última vez que você realmente olhou nos olhos de alguém e percebeu aquela sensação graciosa, inefável? Ou que realmente escutou o que um amigo lhe dizia - sem estar internamente maquinando o que responder a ele ou sem estar preso em seus próprios diálogos internos sem fim? Qual foi a última vez que você sentiu o vento acariciando a sua pele? Ou quando foi que você sentiu pela última vez o gosto daquela sobremesa que você tanto adorava e que hoje continua comendo mais por uma questão de hábito? Onde foi parar esse maravilhar-se, esse encanto? Para onde foi o encanto de apenas correr e gritar por uma praia sentindo a areia fofa massagear a sola de nossos pés, o vento marinho acariciar nosso corpo e desembaraçar nossos cabelos, o murmúrio das ondas nos contando de forma infinita como foi o início de tudo, o calor do sol que nos abraça, como uma mãe abençoando um filho, nos dizendo: toma. Onde foi parar tudo isso?
É nesse aqui e agora perdido que está nossa eternidade abençoada. É nesse grão de areia, que nos passa despercebido, que se encontra o universo. É agora. É aqui. A Impermanência é o vento que move as folhas dessa árvore cósmica. A vida e a morte são ondas nessa praia celestial, lambendo a areia, moldando as rochas, penetrando na terra e subindo aos ares.
É nessa exata respiração que você acaba de "realizar" que está a resposta. Pois o universo também está te respirando mas você não está percebendo. A vida está o tempo todo gritando no seu ouvido Eu estou aqui! Mas você não está escutando. Parece um Tântalo atormentado por desejos eternos em meio ao paraíso. Isso ocorre porque nós ou estamos perdidos em algum ponto lá trás ou estamos perdidos em algum ponto lá na frente.