lundi 9 juillet 2007


20. Quem sou... Eu?

É claro que convencionalmente existe a necessidade de ser marcar um ponto no espaço, existe a necessidade de uma referência, de um eu. Contudo, quando esse eu começou a se achar o centro da circunferência, o centro do numinoso, o centro da galáxia, o ponto central, aí o problema começa.

Todavia, dentro dessa construção que estamos fazendo, onde esse eu está tendo a sua validade absoluta analisada, é importante que nos lembremos de outro elemento dentro desse processo: a mente. Onde esse eu começou a querer diferenciar-se de si mesmo. Em português a palavra mente refere-se tanto ao local onde se processam os pensamentos quanto ao processo de omitir a verdade. A mente então é onde a transformação externa e interna, mas de caráter temporal, teve seu começo. Onde as energias básicas geradas pelo esquema lutar ou fugir foram plantadas. Todavia essa “mente” esteve sempre presente. Esteve presente naquela sociedade de caráter "guerreiro" e nas de caráter "pacífico".

Embora as antigas civilizações derivem de uma mesma raiz - como sustenta a arqueologia e a etnografia - e que essa raiz comum baste para sustentar e explicar as formas homólogas de suas estruturas mitológicas e rituais (poderíamos localizar o princípio desse florescimento no Oriente próximo, por volta de 1000-7500 ª.C.), a partir de um momento houve uma espécie de "ruptura" nesse desenvolvimento e o mesmo dividiu-se em duas formas primárias de se posicionar, o que eu chamado aqui de sociedade de caráter "guerreiro" e sociedade de caráter "pacifico".

E como e por que se deu a diferença? Talvez pelo fato da primeira (a sociedade de caráter "guerreiro") ter introduzido o tempo como meio de transformação, um meio para se tornar cada vez mais perfeito, cada vez mais evoluídos; e o segundo modelo (sociedade de caráter "pacífico") estar em contato com esse infinito atual, com esse divino, com esse feminino, com essa sexualidade sacra que abole o tempo, que falamos no início do capítulo.

Mas isso não significa querer parar a evolução, não significa buscar de forma infantil o mito do bom selvagem. Isso levanta de forma categórica os vários tipos possíveis de evolução e questiona o tipo escolhido pela humanidade e utilizado e mantido até os dias atuais. E esse questionar é uma das propostas do Tantra.

O tântrico recusa-se a se entregar ao gesto autoritário da percepção que capta, que seqüestra, domina, controla e congela o mundo. Pois a postura tântrica flui no mesmo sopro e segue a seqüência de uma ordem entrópica, natural, divina. Porque no numinoso não se encadeiam eventos tais como uma procissão ou uma marcha, o numinoso não marca quereres numa pedra e os transforma em leis, o numinoso encontra-se nos resíduos dos paradoxos, no choque das singularidades. O numinoso é subversivo.

E como reverter esse processo? Talvez em primeiro lugar congelando esse "tempo". Congelando através da percepção que temos do mesmo. Congelando esse tempo através da percepção via meditação - um processo natural de permitir-se examinar a natureza dos pensamentos, emoções e sensações físicas e descobrir a pureza inerente a seu próprio ser, uma prática baseada na experiência direta ao invés de na crença cega - e inutilizando esse eu, para que possamos perceber esse infinito atual, essa numinosidade. Essa presença. E se fizermos isso utilizando a poderosa energia que nossa sexualidade pode "gerar", estaremos, talvez, no rumo certo.

E por isso mesmo que os textos indicam que no caso do homem se exerça a retenção completa, pois diferentemente da mulher, que consegue manter este estado sublime, o homem é derrubado do mesmo caso não consiga reter-se (e existe caros amigos, um gozo não ejaculatório). Ao pararmos esse tempo percebemos que existe uma espécie de nada, logo, percebemos que existe um tudo. E que este tudo é basicamente energia.