lundi 9 juillet 2007



23. É proibido proibir?

A forma mais indicada para fazer com que uma pessoa se interesse em conhecer alguma coisa é classificá-la como proibida, como pecado. Então a pessoa pensa "não, não posso fazer isso porque é proibido" e continua "não, não posso porque é pecado e não devo" e continua "não, não posso porque é pecado, é proibido, e eu não devo fazer isso". Então a pessoa faz. Isso se dá com quase tudo o que diz respeito ao ser humano: comida, sexo, ideais, normas e dogmas em geral.

Ela é quase que empurrada a conhecer algo que talvez passasse despercebido se não tivesse tido a placa luminosa AFASTE-SE, É PECADO! Depois, essa pessoa poderá "resolver" essa situação se confessando, admitindo que errou e tal... para novamente fazer tudo de novo. Num processo, que segundo esse tipo de crença, leva aos céus. A literatura tenta resolver a questão afirmando que a melhor maneira de se matar a tentação é cedendo a ela. O Tantra afirma que é percebendo-a .

Mas toda mudança baseada em transformação através do tempo não terá sucesso. O céu existe? Ele é perfeito? Mas eu não estou lá. Como é que eu me encontro agora? E o processo de "transformação" é então um ilusão. Como estou? Perdido, com sono, cego? Se estou cego como vou me transformar em alguém que vê? Tenho de perceber o que é a minha cegueira. Qual a sua origem... Mas não no sentindo: se eu me perceber poderei enxergar. Não é uma questão de gratificação.

Sou um ser humano, tenho milhões de anos, desci das árvores, comecei a copular olhando minha companheira frente a frente, me diferenciei dos animais também por isso, mais tarde voltei a copular como um animal, meu cérebro cresceu, meu organismo foi moldando meu conhecimento pela experiência e pelo conhecimento adicional que evoluiu enquanto crescia, e cada vez mais acumulei conhecimento, percorro o caminho há milênios e agora estou aqui e percebo que o tempo todo estive cego. Com se dá isso?

O Tantra solicita que se eu me perceber notarei que nada sou além de agregados que fluem por um processo classificado de consciência... nada realmente tenho. Perceberei que estou completamente "vazio"... e esse é o ponto. Percebo-me e então me dou conta do "fogo". Dou-me conta desse Amor que Tudo Abarca. Dessa a mors, dessa não-morte. Não conseguirei mais permanecer quieto. Não conseguirei mais carregar as tralhas que levei por toda a minha humanidade. Pois perceberei que tudo está podre. Carregava um cachorro podre e achava que era o meu alimento, a minha base. Achava isso porque estava... cego. A partir desse ponto haverá a dinâmica dessa paixão que se estende por toda parte.

Mas porque até então estive cego? E por que é que alguém ao falar isso para outra pessoa não será entendido? Porque não é uma questão intelectual! O Tantra não é intelectual - vai além dessa mente. Pois esse conhecimento contêm e "transmite" uma forma de não mais voltar ao antigo padrão, ao cachorro morto, porque percebemos que ele em si não existe.

Porque quando esse curto-circuito acontece, quando esse Amor se expressa, é como um choque. Ficamos sem ar, ficamos sem o chão, sem a base, ficamos sem o tempo. Não há mais referência. Então percebo... isso. Convencionalmente, continuo a existir, mas a montanha que eu via antes de percebê-lo e que eu achava que era uma montanha, durante o choque, deixou de sê-la, para voltar a sê-la novamente depois, de modo convencional.

A sabedoria tântrica do Dzogchen nos ensina que qualquer coisa que estejamos procurando está sempre aqui. Nós é que habitualmente estamos em outro lugar. Esse é o problema.