lundi 9 juillet 2007


15. Sangra e não morre

Em várias tradições religiosas a mulher, infelizmente, possui a carga daquela que tenta, que desvia, que leva o homem para o mau caminho. É o feminino que se traduz como fe minus, ou seja, menos fé. Na alegoria da cobra no paraíso que instiga Eva a comer a maçã e dar de comer a fruta à Adão, temos um bom exemplo disso.

Não é a toa que a imagem que se faz da kundalini é a de uma serpente enrolada na base de nossa coluna. Temos também as nagas (tipos de serpentes) que são espíritos de outra ordem. Habitam paraísos subaquáticos localizados no fundo dos rios, lagos e mares; seus palácios resplandecentes são cobertos de pedras preciosas e pérolas. São os guardiões da energia vital armazenada nas águas terrestres e são também os guardiões das portas.

Porém é importante mais uma vez ressaltar que não se trata de excluir o princípio masculino. E sim de equilibrá-lo. Shiva sem Shakti é shava. Ou seja, Shiva sem Shakti é um cadáver. E através desse equilíbrio, entre Shiva e Shakti, entre Luz e Força, entre Consciência e Energia, entre Masculino e Feminino, que o Tantra busca fluir. Feuerstein sintetiza muito bem a questão: a criação está ligada a Shakti e a transcendência a Shiva. Porém ambos são faces da mesma moeda. Olhos da mesma face.

E nossos ancestrais veneravam a mulher como um ser mágico. Sangra de acordo com a lua e não morre, produz gente, pode alimentar essa produção a partir de si mesma e além disso tem o poder que exerce sobre os seres do sexo oposto. Temistocléia, sacerdotisa de Delfos, foi a mestra de Pitágoras, assim como Diotina, sacerdotisa de Mantiéia, foi a mestra de Sócrates. Mas porque será que poucas pessoas sabem disso?



foto: Nicola Ranaldi