lundi 9 juillet 2007


40. Sobre os prazeres excessivos
"Em relação aos prazeres do corpo devemos examinar a opinião de certos estudiosos, segundo a qual alguns prazeres são muito desejáveis, notadamente os nobres, todavia não são os prazeres do corpo, isto é, aqueles aos quais se dedicam as pessoas intemperantes. Nesse caso por que os sofrimentos contrários a eles serão maus, uma vez que o contrário do mal é o bem? Serão bons os prazeres necessários no sentido em que mesmo aquilo que não é mau é bom? Ou eles são bons até certo ponto? Será que onde há alguns estados e processos que não podem ser excessivos, tampouco pode haver prazeres excessivos correspondentes, e onde pode ter disposição e processos excessivos também pode haver prazeres excessivos?" - questiona Aristóteles.
A relação do Tantra com o sexo é encontrada na maioria dos lugares onde o assunto é tratado. O equívoco estende-se ao relacionar o Tantra com os Sutra de Kama - uma espécie de manual de auto ajuda sexual medieval. Contudo, em certo sentido, podemos dizer que a relação do Tantra com o sexo... não existe.
Não existe na medida em que quando o Tantra trabalha com a sexualidade através de certas técnicas, o que se está "fazendo" não é mais sexo. É Tantra. E o ponto estende-se além do prazer excessivo, necessário, bom, ruim, certo ou errado. Vai além do que dentro da sexualidade comum é classificado de correto ou normal. E encontramos em Jesus, O Cristo, as palavras que selam esse significado: "Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram a diante de vós no reino de Deus" (Mateus 21:31).
Pois no Tantra encontramos que se alguém quiser escapar do terrível fardo da auto complacência e santificada comunidade, o único recurso é mergulhar abaixo do mais baixo, ir além do que está além, romper a máscara, até mesmo a do deus mais supremo e assim perceber a fragrância do divino em liberação. Por outro lado, aquele que não se fecha a nada e considera tudo sem distinção alguma é tolo, porque não leva em consideração a hierarquia dos valores e a diferença entre todas as coisas. Mas uma verdade vil se sobrepõe a uma falsidade decente.
Pois o que é o ser além das impressões e inclinações que o movem? Que ser é esse que nasce, cresce e morre em meio a todos os estados e mudanças da vida que passam como uma brisa? E como a ignorância pode existir neste mundo se não existe realmente um eu no qual a ignorância ocorra? O que se imagina ser um eu... é apenas a continuidade da ignorância básica.
E se Kama representa toda a gama de experiências possíveis no que diz respeito ao sexo, se Kama é o desejo, o apetite, a satisfação carnal, Shiva é o deus que o transforma em cinzas através do raio de poder que emana de seu terceiro olho ao ser despertado. As percepções não são destruídas. Apenas se nota a sua realidade básica - o Vazio. E assim o tântrico percebe o que é, descobre as causas ao ultrapassar o estágio do mero envolvimento, não pela via da glorificação do sexo ou de si mesmo, nem pela via da submissão aos deuses, mas pelo caminho do Conhecimento, pela estrada da percepção do eu. Pois a encarnação divina só pode ser realizada a partir de nossas próprias entranhas.
Dentro do budismo clássico, assim como em outras religiões - considera-se a energia sexual como algo volátil, que pode criar complicação à santidade, à solidão e ao silêncio interno. Mas a partir do Tantra essa poderosa força é utilizada e "dominada". Pois no Tantra todos os caminhos são integrados.
Os textos nos solicitam que encontremos um(a) consorte com quem possamos praticar os exercícios espirituais tântricos como um processo transformador de consciência. Existe então uma imensa variedade de meios para se realizar o trabalho, como a retenção seminal, a retenção/extensão do orgasmo, "gestos" especiais e "toques" específicos nas mãos e no corpo, linguagens internas secretas e a utilização de vários tipos de respiração.
Outros rituais utilizam as energias lunar e solar durante o processo, assim como também utilizam a visualização como uma poderosa forma de se produzir "mais" energia. Em antigos textos indianos temos o processo sexual em imobilidade total onde apenas se "trabalha" a respiração e as energias dos chakras. "E numa prática tântrica autêntica utilizamos a concentração natural do desejo interno para além nós", afirma o Lama Surya Das. Mas cuidado com as armadilhas desse caminho. Lembre-se, ele é um caminho exclusivo de heróis e heroínas. E diversas armadilhas estarão a sua frente caso você escolha essa via. Armadilhas internas e externas.