lundi 9 juillet 2007


41. O Vazio é a Forma e a Forma é o Vazio.

Aquele que não possui a natureza do ego e cujo o espirito é imaculado

Não mata nem se deixa aprisionar Mesmo que venha a ter de destruir os mundos.
(Yoga-Vasishtha)

Embora o discípulo Sahaja (uma das escolas tântricas) anuncie, entre outras coisas, o abandono de imagens, o uso das mesmas dentro do tantrismo ocupa um papel importante. As imagens divinas existem como suporte para as variadas técnicas meditativas.
Meditando-se sobre uma imagem o discípulo visa, em primeiro lugar, transportar-se ao nível cósmico da mesma, para em seguida assimilar, incorporar, a força que rege, sustenta, esse nível; e que de certa maneira é uma criação do próprio discípulo. É uma espécie de transposição do universo mental do discípulo para o universo numinoso das divindades. Nesse exercício busca-se compreender o significado de um determinado ícone, perceber-lhe o simbolismo, visualisá-lo, construir mentalmente a imagem para acordar as suas forças interiores - mas mantendo-se lúcido e em perfeito domínio de si mesmo. “Não podemos venerar um deus se não nos tornarmos o próprio deus” - esse adágio tântrico promove a importância de identificar-se num nível profundo com a divindade.
Já os sons e suas relações transcendentais são quase óbvias. A respiração é som. O bater do coração também. O ritmo das ondas na praia, os ritmos de corpos em êxtase, os ritmos do feto em estado de beatitude no ventre materno, ecoam numa mesma espiral. Temos o OM, o mantra primordial. Pantajali o considerava a expressão de Ishvara. Embora certos mantras já se achassem no Brahmana, foi através do caminho tântrico que os mantras foram elevados a autênticos veículos de salvação.
O seu “sucesso popular” deve-se a facilidade em entoá-los e receber o mérito devido. Pelo menos na teoria. Contudo seus significados mais profundos passam distantes dessas facilidades. Mas o que é importante nos mantras é seu valor, sua função; a utilização dos fonemas como suportes para a concentração, o conhecimento e o trabalho em cima de sistemas gnósticos e de liturgias interiorizadas, que resgatam as tradições arcaicas e xamânicas dos sons místicos.
Os fonemas utilizados durante as práticas tântricas tem a função de acionar os estados de consciência que possuem conexões com o Todo. Essa tradição arcaica que utiliza “sons” remete aos êxtases dos xamãs que expressavam-se através de “invenções” fonéticas inteligíveis, que muitas vezes são o início de um linguajar secreto e iniciático. E o objetivo do iniciado é despertar essa energia básica, essa consciência primordial.
O poder ilimitado dos mantras dá-se devido ao fato de que eles são (ou tem o poder de tornar-se) os símbolos que representam. Cada deus, cada grau de beatitude possui o seu mantra, o bija-mantra, um som místico que é a sua semente, seu suporte, seu ser. O universo é sonoro, cromático, formal, substancial. O cosmos é um vasto tecido de forças mágicas e essas forças podem ser acordadas, ativadas, e organizadas no corpo humano pelas técnicas tântricas. Por fim temos a afirmação de Vasubandhu em seu tratado Bodhisattva-Bhumi, que o verdadeiro sentido dos mantras reside na ausência do mesmo. E a meditação sobre essa não significação visa que o caminhante perceba a irrealidade ontológica da existência, e a repetição indefinida e circular do mantra conduz a destruição da linguagem, a destruição das cadeias normais que nos prendem ao nosso conhecido e seguro mundo tridimensional. E essa destruição é a condição básica para experiências vindouras.