lundi 9 juillet 2007



39. Acordando a Cobra
Quando a sussumna ascende, e passa pelos chakras (relacionados com os elementos terra, água, fogo, ar e vazio) esse Amor é Deus - nesse caso Deusa. Sir John Woodroffe diz que a maneira para se saber se a kundalini (Shakti) foi realmente desperta é através de um calor imenso que localiza-se num determinado chakra; na ascensão, o chakra anterior torna-se então gélido como um cadáver. Quando esse poder finalmente chega ao seu destino, o lótus de mil pétalas, todo corpo encontra-se gélido, exceto no alto do crânio onde há calor. Experimenta-se assim o Êxtase e a Transcendência.
De forma semelhante existe dentro da cultura navajo uma arte conhecida como pintura de areia; parecida com o mandala tântrico, onde a areia que cerca a pintura eqüivale-se ao interior de um templo, uma espécie de paraíso terrestre, onde todas as formas devem ser sentidas, mas além da relação convencional de bem e mal, devem ser sentidas como manifestações de forças que apoiam o mundo visível, embora sejam desconhecidas pela percepção comum - mas que em si são a nossa própria natureza.
Ela é utilizada numa cerimônia de benção, para cura ou para transmissão de poder e força espiritual em virtude de uma determinada provação. Essa pintura, semelhante a sua versão tibetana, é feita com areia colorida e durante cinco ou nove noites são realizados cantos, orações e rituais. O paciente, ou o iniciado, identifica-se com o "protagonista" mitológico da lenda em questão, e entra assim dentro da pintura, recebendo a cura ou a iniciação da divindade propriamente dita.
Esse paciente, ou esse neófito, passa por uma série de pontos de poder, que podemos identificar com os chakras, e tem como centro do mundo espiritual, o Grande Pé de Milho, que serve como o eixo dessa jornada. Nós podemos identificá-lo com a sussumna. De forma impressionante, a parte superior desse Grande Pé de Milho é marcada por um relâmpago, que nos remete diretamente ao vajra, ou dorje, da iconografia hindu e budista tântrico.
A semelhança entre a revelação tântrica pela ascensão da sussumna e o caminho do Pólen navajo do Grande Pé de Milho é incrível. E há também nessa pintura navajo as cores das forças femininas e masculinas que unificam-se ao passar pelos Portadores de Espíritos, que são os guardiões da entrada. Outras semelhanças com as tradições tântricas dos dois princípios psicofísicos masculino e feminino que atingem o clímax no chakra da coroa.
Ouvimos então o vento nos trazer as palavras de Mircea Eliade que diz: a dialética do sagrado tende a repetir-se numa série de arquétipos, de modo que uma hierofania realizada num certo momento histórico é estruturalmente equivalente a uma hierofania mil anos antes ou depois; elas possuem a peculiaridade de revelar o sagrado em sua totalidade, mesmo que os seres humanos em cuja consciência o sagrado evidencia-se se apeguem a apenas um aspecto ou a uma pequena parte dele.
O tu és aquilo é percebido quando o caminhante preparado e desfeito de todas as bagagens desnecessárias desdobra-se da auto-identidade, do corpo temporal e mergulha nesse Amor, que não é de nenhum lugar e de nenhum tempo, mas cósmico e além da morte - embora contenha e esteja contido em todos os seres, em toda parte e para sempre. E se Goethe afirma que todo o transitório é apenas uma metáfora, Nietzsche responde-lhe que todo o eterno também o é.
E esse divino, esse Tantra, desliza, assumindo várias formas, da civilização sumério-babilônica, da egípcia, da greco-romana, da dravídica, da védico-ariana, da tibetana, da maia-asteca-inca, dos persa/árabes/ judeu cristão islâmica, até esse nosso "futuro". Mas esse murmúrio inaudível deu-se até mesmo antes das primeiras altas culturas alfabetizadas.