vendredi 6 juillet 2007

2. Um começo

Embora o Tantra tenha ramificações que se estendem até o neolítico, começaremos nossa jornada pela Índia - o lar temporal desse saber. A misteriosa e maravilhosa civilização do vale do Indo.

A teoria oficial de que os arianos ao chegarem na região encontraram um povoado de nativos incultos que posteriormente foram “civilizados”, há muito caiu por terra. Vários autores reviram essa tese de caráter ligeiramente preconceituoso. Entre eles, Van Lysebeth, que afirma enfaticamente de uma forma levemente cômica: “Ora, o contrário é verdadeiro! Os arianos, nômades e bárbaros e ladrões, lá encontraram uma civilização urbana e refinada que eles destruíram”. Nas recém descobertas arqueológicas temos as cidades de Çatal-Hüyük, Mohenjo-Daro e Harappa (6.000 - 1.900 antes da era atual), complexos centros urbanos que foram, quase, destruídos pelos arianos “superiores”.

Mohenjo-Daro, por exemplo, possuía uma rede sofisticada de poços, esgotos, encanamentos; um sistema de instalação sanitário sólido, elaborado e complexo, cujas características se aproximam das construções modernas. E a partir desse elaborado sistema de esgotos, podemos supor o altíssimo grau de sofisticação dessa civilização. Pois pelo tipo de merda – ou seu tratamento – identificamos o tipo de animal.

No plano cultural os harapianos, por exemplo, eram nitidamente superiores aos indo europeus, como nos mostra Mircea Eliade em sua obra Yoga - Imortalidade e Liberdade; sua civilização urbana e "industrial" não se comparava com a barbarie dos indo-europeu . Os harapianos não tinham entretanto vocação guerreira e mal preparados para essa invasão, foram vencidos.

No plano religioso, as antigas civilizações do vale do Indo traziam em si o culto da Deusa; tinham um caráter matrilinear e a mulher ocupava um lugar de destaque. Figuras femininas dominam os santuários de suas cidades e o deus macho, seu filho/consorte, desempenhava um papel quase subalterno; barbudo, cavalgando um touro. Podemos supor aqui a origem de Shiva e de seu veículo, o touro nádi.

Numericamente minoritários, frente a uma imensa população vencida, os arianos tiveram de utilizar alguns estratagemas para consolidar a sua conquista. Foi instaurado um sistema de castas, com uma lógica implacável, para garantir a sobrevivência étnica e seu domínio absoluto sobre os conquistados. Todos os vestígios da civilização dravídica foram (quase) arrasados e os conquistados foram reduzidos à condição de servos e escravos. Por fim, foi mantida entre os vencedores a lembrança da luta e do ódio, transformando essa guerra em culto - a religião védica; e enfim, os arianos foram autoproclamados a raça dos senhores. No Rigveda temos a descrição de Indra derrubando duas vezes dez reis de homens e destruindo a fortaleza dos não arianos, os anasa, sem nariz (ou de nariz chato?) e de pele escura.