mardi 10 juillet 2007


48. O encontro de Shiva e Shakti no lótus de mil pétalas

Deus é Amor
(Jesus, o Cristo)
Desde o paleolítico são realizados festivais sagrados onde a sexualidade é utilizada como uma desencadeadora de forças cósmicas e telúricas. Encontramos entre os gregos práticas religiosas que envolve o sexo. Entre os egípcios os ritos Tifonianos procuravam despertar os iniciados através de orgias e rituais sexuais sagrados. E na Índia, desde os tempos pré-védicos, o maithuna é conhecido; mas é somente dentro do tantrismo que ele se transforma em instrumento de salvação.
A iconografia tântrica dos casais divinos, das inumeráveis formas de Budas e suas consortes, constitui o modelo típico do maithuna. Tem-se a imobilidade do deus e toda a atividade é realizada pela deusa. O espírito sereno em meio ao jogo cósmico. Através do maithuna, falando de forma resumida, controla-se a respiração e trabalha-se a concentração, a retenção, e o objetivo final é a transformação completa do casal humano no casal divino. Não se trata mais de sexo. Pois caso bastasse o coito em si, todos os asnos e todos as coelhas do mundo já teria realizados o seu estado búdico potencial.
A amante então sintetiza toda natureza feminina; ela é a mãe, a irmã, a esposa, a filha, a prostituta, a assassina - de sua voz exala o amor. Dessa união ritualística e mística nasce a unidade de emoção, a experiência paradoxal do eu sou você.
Nesse ponto é importante mencionar duas vertentes básicas dentro do tantrismo tradicional: os samayin, que veneram Shiva e Shakti e trabalham para despertar a kundalini através de práticas psicofisiológicas, e os kaula, que adoram kaulini (a kundalini) e trabalham em ritos de forma concreta.
Contudo, como já foi mencionado, dentro do Tantra existe toda uma linguagem rude, brutal e explícita que é usada como armadilha para os não iniciados. “Pelo mesmos atos que fazem queimar certos homens no inferno durante milhões de anos o tântrico e a tantrika obtêm sua eterna salvação” – avisa Indrabhuti. As mulheres são os deuses, as mulheres são a vida, as mulheres são o adorno. Deves estar sempre em pensamento entre as mulheres, diria o Buda. Radha é concebida como o amor infinito que constitui a própria essência de Krishna. E aquele que chega a compreender a verdade do corpo compreende a verdade do universo.
Nesse sentido empregamos a conjunção dos contrários para efetuar a ruptura do nível comum e redescobrir a espontaneidade primordial. Mas “o Tantra não é leite para crianças” – adverte Julius Evola. E quando o homem tornou-se bípede e ficou em pé, perdeu o olfato, afastou-se da terra, perdeu esse contato básico. E só o sexo pode devolver ao homem o sentido e o gosto dessas origens; só esse "deixar-se levar", esse transe, pode restabelecer esse contato perdido.
O domínio absoluto dos sentidos é necessário para que essa mística seja realizada. Pois a retidão por parte do homem é condição básica para que o ritual seja realizado. Ao mesmo tempo em que a “volúpia” exerce o papel de veículo, proporcionando a máxima tensão que suprime o estado normal de consciência e dá acesso ao estado nirvânico, os textos repetem de forma ininterrupta que “o sêmen não deve ser derramado”.
Pois a Unidade é percebida através da imobilização dos três estados: da respiração, do pensamento e do sêmen. Buscando assim a unificação dos contrários; Sol e Lua, Shiva e Shakti, Ida e Pingala. E numa análise mais profunda lemos o maithuna como uma morte iniciática, uma experiência de morte e ressurreição. O tântrico é um duas vezes nascido.
Mas assim como a natureza não pode ser vista em oposição ao espírito e sim como uma manifestação viva da própria realidade, que abarca a consciência, Shiva e Shakti se diferem apenas a partir do conceito que se faz deles, pois são a mesma realidade no nível absoluto da existência.
"Apesar do isso poder ser apontado com palavras, a realização em si não é um caso de pensar sobre o mecanismo das palavras. Ainda assim, em dependência destes símbolos verbais, o isso da própria mente pode tornar-se manifesto; - diz Khetsün Sangpo Rinpoche - quando ganhamos a iniciação e a transmissão da instrução quintessencial, e então nos retiramos para um lugar solitário, podemos ter estas experiências. Os preceitos não entendidos quando lidos nos livros são compreendidos imediatamente para alguém que então esteja procedendo na base do conhecimento interno. Então, quando morrermos, será como um retorno à nossa mãe, sem a menor preocupação."