lundi 9 juillet 2007


17. Fundamentos

Situa-se no chamado neolítico superior, aproximadamente 4500 – 3500 ª.C – o período em que uma constelação de estatuetas femininas nuas aparecem pela primeira vez na historia da humanidade. A cerâmica torna-se então, como que num passe de mágica, admiravelmente requintada e decorada com beleza e, além disso, mostrando um conceito totalmente novo de arte ornamental e de organização de formas estéticas como nunca havia existido desde então.

Nesse período, onde começam o aparecimento de aldeias bem estabelecidas em amplo desenvolvimento, afloram numa proporção nunca vista, até então, as mais graciosas e conscientemente organizadas composições circulares de motivos geométricos e abstratos nas cerâmicas dos estilos conhecidos como Halaf e Samara; coincidentemente, a mulher nesses grupos sociais emergentes, consegue nessa mesma época um status semelhante ao do homem, e em algumas situações, superior a ele.

Um fato bem interessante dessa época é a ausência de imagens representando o poder armado ou de guerreiros nobres nem cenas de batalhas. Muito menos imagens de guerreiros “heróicos” arrastando escravos vítimas de suas pilhagens em guerras. O que há em bastante quantidade, através de pinturas murais, nos motivos decorativos dos vasos e nas várias estatuetas é uma vastíssima coleção de símbolos naturais. Encontramos, por exemplo, na Hungria padrões geométricos de forma ondulada – denominados meandros - de cerca de 5000 ª.C que simbolizavam as águas correntes.

E a associação das águas com o feminino também existe desde os primórdios. A deusa egípcia Nut é considerada a unidade harmonizadora das águas celestes primordiais. Assim como Ariadne e Afrodite que surgem do mar. Temos também a "nossa" Janaína / Yemanja.

Cabeças de touros em Çatal Hüyük, ouriços-cacheiros em terracota no sul da Romênia, vasos rituais em forma de corças na Bulgária. Em Creta encontramos serpentes e borboletas (símbolos da metamorfose) retratando a deusa. “E em toda parte – em murais, estátuas e figuras votivas – encontramos imagens da Deusa. Nas várias encarnações como donzela, ancestral ou criadora, ela é a senhora das águas, dos pássaros e do outro mundo, ou simplesmente a Mãe divina embalando o filho divino em seus braços” – como explica Riane Eisler.

Então, a partir dos Sumérios, surge toda a confluência cultural que constitui a unidade germinal de todas as civilizações avançadas do mundo. E esse fato se atribui não a qualquer conquista da mentalidade de simples camponeses; ou tampouco a conseqüência mecânica de mero acúmulos de artefatos materiais, economicamente determinados. Foi pelo surgimento de uma nova ordem de indivíduo: o profissional do templo em tempo integral, iniciado e estritamente arregimentado, o sacerdote e a sacerdotisa.

Entre as imagens mais interessantes encontradas durante esse período temos a de um grande vaso sagrado, um grande cálice, estilizado em forma de uma Deusa entronizada, entalhada com ideogramas da cultura Tirsza, na Hungria. Um dos primeiros modelos estilizados daquilo que bem mais tarde seria associado ao graal.

Nesse mesmo período surge ainda a escrita, iniciando a historia documentada; assim como a roda e os dois sistemas numéricos ainda usados: o decimal e o sexagesimal – o primeiro era usado nos cálculos comerciais e o segundo na medição ritualística do tempo e do espaço. Trezentos e sessenta graus, a circunferência de um círculo, o ciclo do horizonte, mais cinco – representando os quatro pontos cardeais com o indivíduo em seu centro, para representar a passagem sagrada, através da qual a energia espiritual fluía do macrocosmo para o microcosmo; em decorrência disso fixados como dias de festas e festivais sagrados de um novo ano que sempre começa, onde poderes celestiais e telúricos se unem diretamente no vértice – o quinto ponto. Onde orgias sagradas eram realizadas e onde o ser não se sentia separado do Todo.