lundi 9 juillet 2007


26. Os Ativadores

Willian James, definiu claramente essa questão quando afirmou que: “Nossa consciência desperta normal não é se não um tipo especial de consciência, ao mesmo tempo que, em todo o seu redor, afastadas pelas teias mais tênues, há formas potenciais de consciência que dela diferem por inteiro. Podemos passar pela vida sem suspeitar de sua existência; mas aplica-se o estímulo necessário e, num átimo, elas surgem em toda sua inteireza.” A abertura das portas da percepção, diria Blake.

E diferentes tradições, assim como o Tantra, acentuam diversas técnicas e combinações das mesmas para obter o "controle" sobre a consciência e a percepção. Para se obter o (des)controle sobre o controle. Para que possamos perceber que nessa peça de nossa própria vida somos ao mesmo tempo o público, a coxia, o contra regra, o herói e a donzela que chega para salvá-lo.

A “vantagem” do Tantra sobre outros caminhos é que o processo tântrico não exclui nenhuma parte de nossa vida. Tudo é aproveitado. É uma forma de espiritualidade completamente reciclável. Embora envolva certos “treinamentos” de controle da sensibilidade perceptiva, da concentração, das sensações e da cognição, seus processos partem de “dentro” para fora e utilizam o que lhe aparecer pela frente. Semelhante a um processo homeopático, onde se usa um veneno para a cura de alguém envenenado.

Mas a percepção da profundidade do processo tântrico vai além do “simples” intelecto. Como já dissemos, certas respostas somente serão obtidas quando aquele que fizer a pergunta utilizar toda a sua existência, todo seu ser, toda a sua ignorância, para descobri-la. Pois a questão tântrica vai além da equação puramente filosófica tese, antítese, síntese. Diferencia-se então o sagrado do religioso. O religioso é temporal e necessita de uma ordem, uma arrumação; contudo o sagrado eclipsa o tempo e o espaço.

Por exemplo, para um gato, um fenômeno particular pode não passar de um objeto colorido (o que ele pode ser); para um aborígene, pode representar um tipo diferente de folhagem agrupadas e marcadas (o que ele pode ser); para um homem civilizado de cultura média, pode ser um livro (o que outra vez ele pode ser) contendo códigos sem sentido a respeito da natureza do mundo, enquanto que para um alquimista, para um Fulcanelli, pode ser um maravilhoso tratado acerca da natureza última da matéria, que revela novos paradigmas e novas possibilidades de realidade.

Embora o fenômeno fosse o mesmo, o nível de interpretação variava de acordo com a capacidade de cada observador. No Tantra nossa leitura de mundo vai se sutilizando e por conseqüência vamos percebendo uma realidade cada vez mais complexa.

O V Dalai Lama foi criticado, em sua época, por hereges que o acusavam de manter relações sexuais, algo condenável para um monge, mas respondeu que “o que vocês dizem que eu faço, vocês também fazem, mas aquilo que vocês fazem, não é aquilo que eu faço”. Ele se referia, logicamente, a rituais tântricos que embora possam utilizar a sexualidade não tem mais nada a ver com o sexo em si.

Pois a informação percebida em determinado estado de consciência pode não ser compreendida por outra pessoa em outro estado de consciência. Assim como um indivíduo pode experienciar e entender determinadas questões num estado alterado de consciência e não mais entendê-las ao sair desse estado. Porque a realidade que percebemos reflete o nosso próprio estado de consciência; e jamais podemos explorar a realidade sem explorarmos, ao mesmo tempo, a nós mesmos, tanto por sermos como por criarmos a realidade que exploramos.

Nesse ponto se faz necessário abordar um tema delicado e polêmico: a utilização de substâncias alteradoras de consciência por parte das escolas de mistério - e particularmente por parte do Tantra.