lundi 9 juillet 2007


34. Tratados
A expressão Tantra também é um nome genérico para as escrituras pertencentes aos Âgama, Tantra e Samhitâ, que referem-se a tratados teológicos e práticos discutindo códigos de disciplina, conduta e culto entre diferentes seitas religiosas e seus pontos de vista metafísicos e místicos.
Para melhor entendimento, podemos arrumar isso da seguinte forma: o Hinduísmo divide a existência humana em quatro eras - onde em cada uma delas haveria uma certa "quantidade" de equilíbrio, de ação correta (dharma), de onde vem a imagem do touro do darma, da qual falamos anteriormente, sustentando-se em nossa época em apenas uma das patas.
Para cada uma dessas eras foi criado um tipo de escritura. Sir John Woodroffe explica que "Se shuruti (Vedas) é a escritura para a Satya-Yuga, smrti é a escritura para Treta-Yuga, os purânas são as escritura para a Dvapara-Yuga, os âgama (Tantra) são as escrituras para a Kali-Yuga - a nossa, onde haveria somente "1/4" do darma presente e em processo de declínio.
Os âgamas e os tantras explicam as regras de conduta de seitas Shivaístas e Shaktas e referem-se à traduções existentes desde os tempos imemoriais. São tidos, se não em sua forma, em seu conteúdo, como mais antigo que os Vedas. E eles nunca foram realmente incorporados aos textos do Hinduísmo ariano. Assim, por serem considerados textos iniciáticos, foram muito pouco divulgados. Muitos até continuam sendo passados oralmente de mestre à discípulo.
Um Tantra completo divide-se em quatro partes: conhecimento, meditação, ação e conduta. E embora a linha divisória entre os Âgama, Tantra e Samhitâ sejam tênues, costuma-se referir-se às escrituras sagradas dos Shaivas (os que adoram Shiva) pela expressão Âgama, enquanto que Tantra refere-se aos Shaktas (os que adoram Shakti, os seguidores da Deusa) e Samhitâ aos seguidores de Vishnu (os Vaishnavas).
O Shakta-darshana apóia-se numa leitura não-dualista da existência. A realidade é um gozo cósmico. É nirguna, não possui atributos nem distinções. E essa realidade manifesta-se, transforma-se em existência, a partir de Maya.
Até aqui (excluindo a questão sexual) existe uma pequena relação entre o Tantra e o Vedanta, contudo, quando o tantrismo afirma que a primeira e última realidade é Shakti a situação muda. Temos então o clássico confronto de leituras de mundo: uma a partir de um modelo patrilinear (Vedanta) e outra a partir de um modelo matrilinear (Tantra). Embora pareça uma simples diferença, em sua essência e em sua prática são posturas quase opostas.